Publicado em 23/09/2022Lido 256 vezes
Heroi da luta em defesa da democracia, Proença impediu massacre em Centro Acadêmico
Ivan Proença, diretor da ABI, será um dos palestrantes do encontro que lançará oficialmente nesta segunda-feira (26/9/22), às 21h, ao vivo, pelas COMBrasil (via satélite, pelos canais 28 da SKY e da OiTV, 3 da ClaroTV, 239 da VivoTV e 20 da Nossa TV) e TV Comunitária de Brasília (canal 12 na NET), para mais de 50 milhões de pessoas, o manifesto O PETRÓLEO VOLTARÁ A SER NOSSO E O BRASIL VOLTARÁ A CRESCER.
Devido ao seu histórico de coerência e luta, a ele foi designada a tarefa de ler o documento. Proença participou em abril de 1964 da defesa do CACO, Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, da Faculdade Nacional de Direito, de grande presença política no apoio a Jango, Brizola, ao trabalhismo e nacionalismo. Os lacerdistas armados, como os bolsoraristas de hoje, foram assassinar os membros do CACO, alunos da FND. Militar, estava de serviço no Ministério da Guerra, que, como a FND, ficava no entorno do Campo de Santana. Ivan Proença levou soldados e impediu o massacre dos lacerdistas. Foi cassado, afastado do Exército e anistiado em 1979. Tem mais de 90 anos.
Segunda-feira estarão ao lado de Proença o vice-presidente da AEPET, Felipe Coutinho, o jornalista Beto Almeida; o professor de Direito Econômico da USP, Gilberto Bercovici; Ivan Proença, diretor da ABI; e o geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás. O evento será apresentado pelo jornalista Paulo Miranda.
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De Próprio Punho, por Ivan Proença: “Cassado como militar e cassado como professor, foi assim que resolvi criar a OLIP” (oficina literária mais antiga do Brasil, fazendo 50 anos)
Eu era oficial (capitão) do Regimento de Guarda Presidencial em 1964. No 1º de abril, dia do Golpe, não aderi. A seguir, fui preso, isolado, cassado e perseguido por 20 anos. Na minha nova carreira, professor, também fui cassado: eu e minha mulher, a professora Isis Maria Balter Proença, cassados e proibidos de prestar concurso público. Minhas novas tentativas, no jornalismo, junto à ABI inclusive, foram vigiadas e constam das fichas dos órgãos de repressão: atividades no âmbito da ABI, anos 70 e 80.
Cassado como militar e cassado como professor, foi assim que resolvi criar a Oficina de Ficção e Poesia, daria minhas aulas aqui e ali, inclusive, até em igreja, seria difícil “descobrirem” e intervir. Um salário insignificante, 6 a 7 escritores, mas ajudaria.
Os primeiros anos de Oficina foram dificílimos, como foi difícil atravessar o período obscurantista da Ditadura, trazendo à luz fatos enterrados por interesses escusos. Mas veio a Anistia: embora restrita, ajudou sob certos aspectos. Exemplo: embora sob intervalada vigilância, já não precisava apresentar-me no DOPS de três em três meses, para declarar sobre minhas atividades.
Reconstituí minha vida através do Mestrado e Doutorado, após fundar a Oficina. E repito aos escritores: oficina não faz escritor, apenas encurta os caminhos para a boa literatura. Hoje, minha oficina é tida como a mais antiga em funcionamento ininterrupto por 50 anos no País. Discreta, sem espírito mercadológico ou marqueteiro, a Oficina não possui vagas em seu sempre limitadíssimo número de ficcionistas e poetas.
Sou autor de 14 livros de Literatura e Cultura Brasileira, Prêmio Especial Esso de Literatura, cinco dos livros agora sendo reeditados, a exemplo do Ideologia do Cordel (sou especialista, membro da Academia de Cordel, maior coleção do Sudeste), e, a exemplo dos livros do Golpe e do Futebol e Palavra.
Neste 2022, comemoram-se (evento dia 6 de abril) os 50 anos da OLIP, Oficina Literária Ivan Proença, a mais antiga do País, que abrigou, e abriga, alguns de nossos mais importantes escritores, pela boa e relevante escrita.
No Governo Brizola, fui Diretor de Cultura do Estado, do MIS e de Projetos Especiais. Hoje, sou militante e ativíssimo, lecionando e acompanhando o GTNM (Grupo Tortura Nunca Mais), atuando no Conselho da ABI, repudiei o rótulo com que o novato na ABI, vice-presidente, contemplou-me e a outros veteranos companheiros (velhos acomodados), na ânsia de promover outras intrusas “renovadoras”.
Pouco antes da 1ª Anistia, afinal, convite para lecionar em uma faculdade, a FACHA, onde trabalharia tranquilo, sabendo que não seria demitido após visita dos repressores. O diretor, professor Hélio Alonso, tinha bom trânsito com militares (cursara a Escola Superior de Guerra) e se interessava por ter bons professores, mesmo sabendo-os contrários à Ditadura: eu e mais três, tornando-nos, até, com o tempo, amigos do diretor.
Hoje, durante e depois da pandemia, estamos ministrando as aulas por skype. Recebo por e-mail os textos, “trabalhos de casa” dos escritores, corrijo, comento em aula e devolvo, fotografando cada um por WhatsApp ou e-mail. Novos tempos.
Ivan Cavalcanti Proença é coronel do Exército. Um Exército que lutou (com a ABI) por “o Petróleo é nosso”, por um Brasil mais igual, por um nacionalismo fraterno e por um patriotismo nunca ufanista. É Mestre e Doutor em Literatura (UERJ e UFRJ) e palestrante em quase todos os estados do Brasil, além de 40 anos lecionando também na FACHA. É membro e diretor da Academia Carioca de Letras.
Fonte: Lu Lacerda