No dia da posse, devemos decretar a prorrogação da Primavera
por quatro anos ininterruptos.
Em todas cidades e em cada povoado, cada um de nós
deverá dar vida à sua Imagem do Sonho.
O Projeto Cultural do Governo Lula deve
resplandecer desde o primeiro dia, desde a posse!
Lula falou contra a fome e a favor da
solidariedade dos oprimidos: devemos transformar, em arte, suas palavras. Temos
que estetizá-las.
Estetizar significa transmitir pelos sentidos e
não apenas pela razão.
Lula falou palavras: temos que mostrá-las como
sólidas, palpáveis e beliscáveis.
Temos que teatralizá-las, pintá-las, esculpi-las,
cantá-las, torná-las concretas, fotografáveis, filmáveis.
Como fazer? É muito simples!
Primeiro: em todas as praças de todos os povoados
do país inteiro, vamos realizar Feiras Culturais com as quais, desde manhã bem
cedo, antes que fuja a noite – desde a primeira luz! – vamos acordar o sol com
orquestras, bandas e blocos; pintores e escultores; artistas de circo e teatro,
bordadeiras, poetas e repentistas, corais e solistas – ao ar livre, em vielas e
descampados, todos em sincronia, nas cidades e nos campos, todos nós, em toda
parte, vamos mostrar nossa arte.
Vamos saudar o dia!
Segundo: em praças e ruas, o povo deve instalar
mesas improvisadas, com toalhas limpas e lindas – mesmo que sejam de papel de
embrulho, bordadas com tesoura e lápis de cor – para as quais deve trazer pão e
comida, e dividi-los com Amor.
Terceiro: isto é importantíssimo – todos devem
estar comendo na hora da posse do Presidente Lula! No ato do juramento, quando
ele disser – “Eu Juro!” – todos, no país
inteiro, todos ao mesmo tempo, devemos levar à boca alimento, e mastigar com
bravura, pois acabar com a fome ele jura: juremos juntos, comendo, juremos o
mesmo juramento! O brinde ao seu governo deve ser mastigado com ganas e com
verdade.
Devemos ser companheiros – comer o mesmo pão,
coletivo. Em nossa mão aberta, oferecer, ao próximo, comida.
Quarto: a população deve dar o que tiver de
descartável em suas casas e possa, a outros, ser útil: sapatos, roupas, móveis,
espelhos, panelas, livros, quadros, violões e reco-recos, quaisquer objetos que
tenham serventia, que saiam do armário e venham todos à luz do dia. Dar e
trocar!
Quinto: essas Feiras, devem ser convidadas
comunidades estrangeiras que vivam no Brasil, para que tragam sua dança,
música, comida – vamos dialogar.
Sexto: após a posse, em ruas e praças, todos os
esportes serão praticados; pingue-pongue, jogo de malha e peteca, bola de gude,
pulo de corda e carniça, voleibol, basquete, luta romana e grega, corridas,
ginástica, trapézios… Tudo é Cultura.
Sétimo: em uma tribuna visível, cidadãos terão
direito a três minutos de fala para fazerem propostas de governo, que deverão
ser levadas a sério, às Câmaras, analisadas, votadas. A sério, que com a lei
não se brinca!
Enquanto em Brasília dura a festa, no Brasil vive
a alegria. Depois, vamos dormir mais cedo: o Dia da Posse será prenúncio e
mostra do Mandato Popular – será proclamado o Dia da Cultura.
Estamos sonhando, é verdade, e o nosso sonho é
sonho. Mas, se hoje sonhamos, é porque temos agora o direito de sonhar o sonho
verdadeiro: hoje, sonhar não é proibido: sonhar é possível. Sonhar… não é sonho.
Sonhemos!
(Augusto Boal, in memoriam, 2002)