Data: 16/01/2023Autor: Chico Sant’Anna5 Comentários

Texto e fotos de Márcia Turcato

Projeto do paisagista e artista plástico Roberto Burle Marx, que contou com o trabalho do assistente Haruyoshi Ono, a Praça dos Cristais é uma verdadeira obra de arte em Brasília. Mas ela foi desfigurada, assim como as obras de arte do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal por bolsonaristas golpistas no dia 08 de janeiro. De fato, a Praça dos Cristais começou a sofrer violência bem antes. Logo após o resultado do segundo turno da eleição para a Presidência da República, que confirmou a vitória nas urnas de Luís Inácio Lula da Silva, no final de outubro de 2022, em uma ampla frente nacional, a praça foi invadida.

A Praça dos Cristais foi uma inspiração de Burle Marx ao visitar a cidade de Cristalina, em Goiás, erguida sobre uma jazida de cristais. O paisagista pediu que fossem construídos modelos dos cristais em cimento para o cenário da praça. No local há 53 espécies vegetais, a maioria nativa do Cerrado, um exemplar de Buriti de 12 metros de altura e com mais de 40 anos, espelho d’água com peixes, caminhos que cruzam o lago e ilhas de flores. A praça, com 102 metros quadrados, foi construída em 1970, reformada em 2009, ano do centenário de Burle Marx, e em que foi tombada pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico.

Bolsonarista, terroristas, esposas de militares, desocupados, militares reformados e uma ampla gama de pessoas que vive dentro de uma rede de desinformação invadiu a Praça dos Cristais e a transformou em favela urbana com cerca de dois mil moradores, que se revezaram em turnos, e que contou com a complacência do Comando Militar do Planalto Central. A praça fica em frente ao QG do Exército, e o acampamento foi armado bem na frente da Tribuna de Honra do Palanque do Exército – também conhecida como Concha Acústica do Exército, projeto de Oscar Niemeyer.

Destruição da Praça

Canteiros foram transformados em área de camping, com churrasqueira e varal para estender roupas e esses vestígios podem ser vistos até hoje. Domingo, 15 de janeiro, visitei o local, e encontrei vários desses sinais deixados pelos vândalos e terroristas. A grama, em vários pontos, morreu devido ao pisoteio constante e às barracas armadas na área. Além disso, centenas de pedras portuguesas foram arrancadas para servir de arma no vandalismo do dia oito.

Segundo depoimento de funcionários que estão fazendo a restauração do local, com quem eu conversei, cabos de energia e luminárias foram roubadas da praça e muitas depredadas, como as lixeiras plásticas e também as de metal. É possível que alguns peixes do espelho d’água tenham virado churrasco nas mãos dos bolsonaristas e diante dos olhos e complacência dos militares do QG.

O acampamento tinha mais de 30 barracas de uso individual, um número semelhante de barracas de uso coletivo, barracões de área comum, como cozinha e recreação, e cerca de 20 banheiros químicos. Dia 09 de janeiro, quando finalmente o acampamento foi desmontado pelas forças de segurança, foram retiradas 60 toneladas de lixo e 1.200 pessoas foram levadas para depoimento na Polícia Federal.

Também por isso, temos de dizer:

SEM ANISTIA!

*Jornalista

Fonte: Blog do Chico Sant´Anna

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