Artigo por Leonardo Melgarejo – Fonte: Brasil de Fato RS (15/11/24)Equipes dos bombeiros e das polícias militar e civil do Distrito Federal no local logo após ataque ao STF – Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Quem são os cúmplices? É o que precisamos saber, e rápido

Dia 13 de novembro foi a data escolhida para novo atentado terrorista na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Quem escolheu? O morto?  

O objetivo? Evidenciar que para eles é possível fazer qualquer coisa, em qualquer lugar? Destacar as fragilidades de controle do governo democrático, e a liberdade de ação para os golpistas que trabalham pela manutenção deste país na condição de colônia submissa?

Ok, está em andamento algo que é grande demais para ser entendido como “coisa nossa”. Há de fato uma escalada fascista mundial que nos atinge na medida que se associa ao desespero dos controladores do planeta, em relação às consequências de seus atos.

O sistema inviável, dependente da exploração contínua e em escala crescente de recursos finitos, desprezando os limites metabólicos condicionantes dos ciclos vitais, não poderia dar em outra coisa. O capitalismo em sua fase atual exige agravamento da vampirização de recursos disponíveis na periferia, e estamos vivenciando o enraizamento entre nós da crise deles.

O desfazimento dos direitos humanos correspondentes a quem nasce ou vive nos países “pobres”, se associa ao racismo ambiental e ao fechamento das fronteiras, dos países ricos, para quem pretenda chegar lá vindo das áreas por eles saqueadas. Trata-se de justificar e facilitar a manutenção da drenagem por onde escoam os fluxos de recursos e riquezas que deveriam ser usados em benefício dos povos explorados. Para isso, fantoches como Javier Milei na Argentina e os bolsonaristas renovados do Brasil de hoje, entre outros, se fazem úteis ao recrudescimento da direita, nos países centrais.

E as bombas de ontem nas bancas de revistas e no Riocentro, ou agora na Praça dos Três Poderes, como no caso do assassinato no aeroporto em Guarulhos (SP) indicam que eles confiam ter ganho fôlego e legitimidade com a eleição de Donald Trump.

Afinal, de fato, aqueles que apoiam a espoliação da vitalidade dos povos do sul podem mesmo acreditar que, contribuindo para a sobrevida do império, venham a cair nas graças daqueles mais bem armados, que hão de contar com capitães de mato para estender seus horizontes. Diante da impossibilidade de invadir e ocupar à força os países da periferia, está sendo utilizada a alternativa que restou ao império: usar fantoches regionais e desmoralizar opções democráticas em andamento nos países satélite, inclusive atiçando candidatos a mártir a atitudes kamikazes, como aquela.

E tudo isso está sendo possível porque os discursos raivosos dos delinquentes reverberam sob panos quentes, amortecedores da realidade, que vêm sendo estendidos pela grande mídia. Se trata de reduzir processos à condição de eventos esporádicos, a ações de malucos, e assim ocultar as maquinações em andamento.

Basta pensar um pouco sobre o que aconteceu na noite de quarta-feira (13) em Brasília, relacionando aquele fato aos discursos de Bolsonaro, àquela tentativa de explosão de caminhão no aeroporto, a tudo aquilo que se viu em 8 de janeiro e, agora, ao 13 de novembro. Tudo isso decorre da presença de golpistas em áreas chave da República, levando à lentidão da justiça e à ausência de punição aos responsáveis pelas conexões que alimentam tais ameaças, em seu crescente. O que eles pretendem anunciar ao mundo foi confessado de pronto em manifestação de Ronaldo Caiado. Segundo eles, a culpa é da democracia, é do presidente Lula. O país estaria sem controle. Não haveria segurança em lugar algum do Brasil. A solução? Segundo eles, eles seriam a solução.

Por isso, chamar o Francisco Wanderlei Luiz (‘Tio França’) de maluco desconsidera o fato de que ele atende a apitos para cachorros e que até foi sadio o suficiente para concorrer a vereador em Santa Catarina, pelo partido preferencial dos golpistas. O PL. Que de Libertador tem apenas a ilusão da impunidade dos criminosos flagrados em ação e atiçados pelas falas de Bolsonaro. Quem não lembra dos gritos… “prefiro perder minha vida do que minha liberdade”?

São desajustados sim. São pessoas desqualificadas, delirantes, OK. Mas nem o Jair nem o auto-explodido se enquadrariam como malucos. Entretanto, compartilham a ideia central de que o terror deflagrado por bombas pode pavimentar o caminho do sucesso para aspirantes à ditadura e ainda assegurar distribuição de benefícios a seus auxiliares mais arrojados.

Além disso, como aceitar que pessoas que buscam lugar de destaque em redes que valorizam seus comportamentos mais audaciosos, poderiam ser “lobos solitários”? De onde vieram as bombas, os materiais e o conhecimento necessário para a elaboração de atos relacionados ao dezembro de 2021 ou ao que vimos ontem?

Nem um só algoritmo, nem uma única pessoa ficou sabendo de movimentos relacionados àquilo?

Ora, neste mundo em que o “mercado” nos oferece, pelo celular e sem que a gente solicite, itens relacionados ao que comentamos em conversas diárias, onde os perfis de comunicação nas redes sociais apontam o que cada um fará a cada momento de vida, alguém conseguiria agir em completa e absoluta solidão? Poderia acontecer algo deste tipo, sem cúmplices?

Quem são os cúmplices?

É o que precisamos saber, e rápido, porque o ódio em não sendo reprimido, se espalha alterando as bases do convívio social em todos os lugares.

Vejam que no município de Rio do Sul (SC), cidade de onde veio o terrorista do momento, Bolsonaro fez 76% dos votos. Pois saibam que lá, há 13 dias, o ex-candidato a vereador pelo PT, José Constantino Cabral Neto, mais conhecido por “Zé Ceará”, simplesmente “desapareceu”.

O desespero da família e dos amigos, o possível envolvimento de interesses contrariados e o que se imagina a respeito do papel da Segurança Pública, neste caso, atualizam drama revisitado por todos que assistiram o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Sales. O filme é lindo, cala fundo e precisa ser assistido. Mereceria todos os prêmios e, independente disso, deveria ser passado em escolas e praças de todas as cidades deste país.

Ali se desenha o que nos espera, se nós, que pertencemos ao universo de candidatos a amigos e parentes das vítimas, compactuarmos com os discursos de anistia aos golpistas. Além de alimentar o ódio, a impunidade a criminosos indicará que estamos dispostos, por comodismo, a abrir mão tanto de um país soberano como do direito a sorrir e a viver em paz.

Não vou dar spoiler, no caso do filme. Mas adianto que, para mim o título bem que poderia ser “agora, todo mundo sorrindo”.

Uma música? Do filme, a que encerra aquele espetáculo. De Erasmo Carlos: É preciso dar um jeito meu amigo.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo

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