Como se sabe até no reino mineral, diria um dos nossos grandes jornalistas, os países reunidos sob o acrônimo de BRIC nasceram da constatação do economista Jim O’Neill, do banco Goldman Sachs, sobre os crescimentos do Brasil, Rússia, Índia e China, no artigo “Building Better Global Economic BRICs”, de 2001.
O século XXI trouxe para o Brasil, a Rússia e a
China, novas realidades políticas. No Brasil, o operário, líder sindical, Luiz
Inácio Lula da Silva chega, em 1º de janeiro de 2003, à Presidência da
República, fato inédito na História brasileira. E será reeleito governando até
31/12/2010.
Na Rússia, em agosto de 1999, Boris Yeltsin nomeou
Vladimir Putin primeiro-ministro. Era sinal claro de que Putin estava sendo
preparado para chefiar o Kremlin. O inesperado foi a renúncia de Yeltsin, em 31
de dezembro daquele ano, catapultando Putin, em 7 de maio de 2000, para ser o
2º presidente da Rússia pós-soviética. E, desde então, Vladimir Putin tem sido
o verdadeiro dirigente da Federação Russa.
Na China, Deng Xiao Ping promovera revolução
liberalizante durante seu governo, de 1978 até 1989, obrigando seu sucessor,
Jiang Ze Min (1989-2002) a elaborar uma teoria que conciliasse a tradição de
Mao Tse Tung com a realidade surgida das reformas de Xiao Ping. Foi, no
entanto, Hu Jin Tao (2002-2012), buscando no mais permanente modo de viver
chinês, o Confucionista, de cinco séculos antes da Era Cristã, pregando o
conhecimento, a harmonia e equilíbrio na sociedade sem deuses, quem acomodou o
marxismo, o liberalismo ao modo agnóstico e ético, fundado nos valores humanos,
que veio caracterizar a governança de Xi Jin Ping (2012 ao presente), o
socialismo com características chinesas.
Certamente é arriscado imaginar que tantas
mudanças após 2001 fossem antecipadas pelo economista-chefe do banco
estadunidense.
O que importa, efetivamente, é a criação dos BRICS
como inovação fundamental para sustentar o mundo multipolar, que o fracasso
neoliberal estava necessitando. Esta situação desencadeou as guerras que os Estados
Unidos da América (EUA) deslancharam por todo mundo neste século, começando
pela farsa do 11 de setembro de 2001, e a invenção do terrorismo islâmico.
Esta é a perspectiva que se deve adotar ao se
tratar dos BRICS, um sustentáculo do mundo multipolar diante do estrebuchar
unipolar que une os EUA, o Reino Unido e sua cria, o Estado de Israel, e uma
falida União Europeia.
Não é Ocidente versus Oriente, pois no mundo
multipolar estão países ocidentais e orientais, e nenhuma divergência se lhes
opõe; diferentemente da unipolaridade, que não abre espaço para o Oriente. Esta
sim é sectária e excludente.
O DISCURSO DE LULA POR VÍDEO CONFERÊNCIA NA SESSÃO
DOS BRICS
Não nos colocamos em oposição ao Presidente Lula.
Apenas pedimos coerência das palavras com as ações e a harmonia das ideias.
Como falar em “fortalecimento da Cooperação do Sul
Global” se expulsa a Venezuela dos BRICS, sendo esta nação, vizinha e irmã,
vítima de sanções e embargos dos EUA, que muito afligem seu povo e o impedem de
usar a maior reserva de petróleo detida por um só país, para seu
desenvolvimento. E quando, no mesmo evento, o Presidente Putin recebe o recém
eleito Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro! Quer Lula, ausente, criar um
constrangimento?
Trata da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
como iniciativa do G20. O G20 é composto pela União Europeia (UE) e 19 países,
a saber: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil,
Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos da América, França, Índia,
Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia.
Apenas a África do Sul representa o continente
africano, que mais do que qualquer outro é vítima da fome e da pobreza. Sem a
significativa participação de Estados africanos como ser efetivo nesta luta?
Por ideologia ou por pressupostos? Ou esta aliança objetiva manter a África
como colônia europeia, pois, além de seu órgão unitário (UE), comparece com
cinco países e duas colônias do Reino Unido, oito membros, quase a metade do
G20.
E qual a credencial do Brasil, que destina pelo
Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2024, cerca de R$ 2,4 trilhões,
44% dos R$ 5,5 trilhões dos gastos, para refinanciamento da dívida pública. Uma
dívida que só foi auditada no Governo de Getúlio Vargas, dividida em seis
fases, de 1931 a 1945, e que resultou no encolhimento da dívida externa
registrada de U$ 1.294 milhões, em 1930, para U$ 698 milhões, em 1945, e para
U$ 597 milhões, em 1948. Tendo o serviço da dívida externa, como proporções das
exportações, caído de 30%, em 1930, para 7%, em 1945 (Willian Rossi e Marluce
Aparecida Souza e Silva, “A Luta contra as Dívidas Seu Surgimento e Sua Manifestação
no Brasil”, Revista Direitos, Trabalho e Política Social, V. 5, nº 9, Cuiabá,
jul/dez 2019).
A Rússia, diante da extrema necessidade de
energia, em Cuba, vítima das sanções estadunidenses desde outubro de 1960, doou
960 mil barris de petróleo, apenas em 2024, à ilha caribenha. Enquanto o Brasil
prossegue comprando armas e vendendo petróleo cru para o Estado de Israel
manter o genocídio de palestinos, condenado por todo mundo civilizado,
inclusive o Brasil, destoando assim, mais uma vez, as palavras das ações.
No capítulo da saúde, o orçamento é minguado e o
Brasil ainda opta pelos medicamentos mais caros, fornecidos por empresas do
Bill Gates com quem Lula se deixou fotografar, como menino propaganda, em
evento em Nova Iorque. Cuba é reconhecida mundialmente pelos serviços médicos e
pela produção de medicamentos de avançada biotecnologia, que exporta para todo
mundo. Além da qualidade, os preços dos medicamentos cubanos chegam a ser 90%
inferiores aos das empresas de Bill Gates, donde o sucesso de vendas, não
apenas para África mas para a Europa.
Com a compra de medicamentos e contratação de
médicos cubanos, o Brasil estaria se ajudando e ao sul global, este a se
libertar das restrições de cunho político ideológico que lhes movem os EUA e a
UE.
Por fim, o discurso do Lula cai no identitarismo
das questões conduzidas pelas Organizações não Governamentais (ONGs)
estrangeiras em nosso País: o clima e a questão feminina. E estas ONGs fazem o
papel de mentoras do Estado, impedindo o trabalho da Petrobrás, na margem
equatorial brasileira, mas que continua sendo fatiada nos leilões da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Mais uma vez Lula3 decepciona seus eleitores e
aqueles que ainda tinham esperança de ver o Brasil novamente crescer e
distribuir riqueza para todo povo brasileiro.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.